Creio no mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas não penso nele Porque pensar é não compreender... O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... Eu não tenho filosofia; tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar... Fernando Pessoa
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Sinestesia: doença ou evolução dos sentidos?
Definida como contaminação dos sentidos, a sinestesia não é doença, mas um fenômeno sensorial quase sempre acompanhado de memória e criatividade excepcionais
A sinestesia é um fenômeno em que um único estímulo - visual, auditivo, olfativo ou tátil - pode desencadear a percepção de dois eventos sensoriais diferentes e simultâneos.
Quando escrevo uma equação na lousa vejo os números e as letras de cor diferente. E me pergunto: que diabos meus alunos vêem?" A frase é do americano Richard Feynman, Nobel de Física em 1965. Ele faz parte de um grupo de pessoas para quem o número dois pode ser amarelo, a palavra carro tem gosto de geléia de morango e a nota fá evoca a imagem de um círculo, por exemplo. Essas são algumas das experiências sensoriais que povoam o cotidiano das pessoas com sinestesia. São sensações difíceis de imaginar, mas tremendamente reais para quem as vive, tanto que os sinestésicos pensam que todas as pessoas têm as mesmas percepções.
Eles raramente sabem que são dotados de uma característica particular, mas não tardam muito a descobrir sua memória prodigiosa e seu extraordinário potencial criativo. Estima-se que o fenômeno atinja uma em cada 300 pessoas.
Esse fenômeno de contaminação dos sentidos em que um único estímulo - visual, auditivo, olfativo ou tátil - pode desencadear a percepção de dois eventos sensoriais diferentes e simultâneos. Há pessoas, por exemplo, que toda vez que sentem um odor (real), escutam certo som (imaginário). Outros enxergam em cor uma letra do alfabeto escrita com tinta preta. Não se trata de um transtorno temporário na maioria dos casos, ainda que haja algumas raríssimas exceções; por isso um dos principais critérios para o diagnóstico da sinestesia é sua estabilidade ao longo do tempo. Geralmente a associação entre estímulo e percepção ocorre apenas em um sentido: quem vê a cor vermelha (imaginária) toda vez que ouve nota dó (real) não escuta a mesma nota (imaginária) quando vê qualquer coisa vermelha (real).
Assistindo um programa sobre medicina na Discovery Home & Health, um tempo atrás, ouvi sobre sinestesia. Na hora, não lembrei do que era, e anotei para depois pesquisar. Ontem achei a anotação e, ao começar a ler, lembrei: minha mãe tem isso! Lembro da emoção dela, após ler a reportagem. Veio me mostrar e falar que tinha entendido o que acontecia com ela. Então, pedi que ela escrevesse esse depoimento, pois acredito que será muito mais fácil para o leitor entender o assunto com a ajuda de um relato pessoal.
A sinestesia é como uma confusão de sentidos. Quando ouvimos um som, neurônios responsáveis pela audição e linguagem são ativados. Esses neurônios, por sua vez, acionam outros, como os ligados a sentimentos, memórias e sensações de bem-estar ou desagrado. Já na sinestesia, outras áreas do cérebro são também ativadas, como a percepção de cores.
Sendo assim, a sinestesia é uma condição de origem neurológica. Suas causas, entretanto, não são conhecidas. Não há certeza também quanto à incidência, pois muitas pessoas mantém segredo sobre a condição. A princípio, atinge mais mulheres e canhotos. A sinestesia pode acontecer desde o nascimento ou ser adquirida pelo uso de alguns medicamentos e drogas ou de lesões no cérebro. Muitas pessoas que já nasceram sinestéticas não chegam a perceber que têm uma situação diferente da maioria das pessoas: pra eles, essa confusão de sentidos e normal.
Existem vários tipos de sinestesia, que podem acontecer isoladamente ou em conjunto: sinestesia som-cor, sinestesia cor-grafema (cor associada a número, palavra ou letra), sinestesia palavra-sabor, sinestesia sabor-toque, sinestesia grafema-cor, sinestesia grafema-qualidade (uma letra é fraca, uma palavra é suave, um número é irregular) e sinestesia espelho-toque (quando uma pessoa tem as mesmas sensações físicas que outra, inclusive a dor. Exemplo:ao ver alguém levando um beliscão, a pessoa tem a mesma sensação).
As consequências da sinestesia para a vida de uma pessoa variam bastante: para algumas, facilita o aprendizado e a memorização; para outras, não interfere em nada; em alguns casos, pode causar incômodo pela grande quantidade de estímulos sensoriais gerados ao mesmo tempo.
(A reportagem da revista Superinteressante citada acima pode ser lida na íntegra. Ela foi publicada originalmente da edição 184 de janeiro de 2003.)
Autor da imagem: Rasbak
Atualização: A revista IstoÉ, número 2042, de 24 de dezembro de 2008, também traz uma ótima reportagem sobre sinestesia entre as páginas 70 e 72.
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