quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A velhice não é o que se diz

Dizer-se que a velhice começa aos 65 anos é apenas uma abstracção ou uma convenção para fins sociais e sociológicos. É um dado para as estatísticas e para clarificar o que queremos dizer quando escalonamos as pessoas por grupos etários, ou quando dizemos que aquela pessoa já tem direito a uma reforma. As pessoas não são todas iguais e não é por fazerem 65 anos que ficam mais desgastadas em termos orgânicos. As questões substanciais do envelhecimento relacionam-se mais com os processos e acontecimentos da vida das pessoas e de terem tido ou não certas doenças, do que com marcos cronológicos arbitrários.

A dependência física, psíquica ou intelectual não depende da idade mas antes de um conjunto de fatores, em que as doenças desempenham o seu maior papel. Ao contrário do que muitas vezes se diz, as pessoas com mais de 65 anos continuam, de um modo geral, providas de todas as capacidades para tomar decisões e fazerem inequivocamente julgamentos muito acertados acerca de muitas coisas, e por maioria de razão, são as pessoas mais habilitadas para saber dar o melhor rumo às suas vidas. Cada vez mais se vêem pessoas com mais de 65 anos a cuidarem de outras pessoas, não só crianças mas pessoas ainda mais velhas do que elas. De facto, a partir de certa idade, a aprendizagem de novas línguas não é muito gratificante, mas aquele dito popular “burro velho não aprende línguas”, pode levar a pensar que o idoso já não aprende mais nada de novo. Ora isso não é verdade. A capacidade de aprendizagem diminui com a longevidade mas não cessa com ela. O ser humano está sempre a aprender e a adaptar-se.

Seja como for, a sociedade continua a ter grandes dificuldades em lidar com os seus seniores apesar de se ter aprendido muito no campo da geriatria e da gerontologia nos últimos 30 anos. Nem todas as famílias estão capacitadas para manter ou criar relações afectivas e funcionais inter-geracionais. Por outro lado, os mais velhos da família continuam a ser precisos para cuidar dos mais novos, e por isso é falso quando se diz que os velhos já não desempenham nenhum papel ou função social. E isto já para não falar do contributo monetário de muitos idosos para o agregado doméstico de muitas famílias. E também continuam a fazer falta para a mediação em muitos conflitos, uma vez que é a experiência da vida que dá a sabedoria para as chamadas magistraturas de influência informais.

Créditos: F.Dias

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