quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Uma viagem ao mundo dos subsentidos

Ogima foi ter com Granjo Marcos e perguntou: “afinal nós somos matéria ou não?” Granjo Marcos replicou: “essa questão deve estar mal colocada. O que queres dizer com ‘matéria’?” Ogima não podia voltar à carga sem recorrer a concepções teóricas e abstractas, e por isso, a certa altura, já estava a meter os pés pelas mãos.

Em termos de raciocínio lógico a expressão “meter os pés pelas mãos” parece um oximoro. Como é que é meter os pés pelas mãos? E foi isso que Granjo Marcos perguntou a Ogima: “Como é que podes entender a expressão “meter os pés pelas mãos” se a levares à letra?” Evidentemente entendemos o que isso quer dizer mas não em termos comuns do conhecimento. Entendemos o significado dessa expressão, e uma infinidade de outras do mesmo género, sem que consigamos explicar como entendemos.

Muitos cientistas, hoje em dia, recusam-se a falar em matéria, aparência e realidade, precisamente porque percebem a alhada em que andam metidos, quando usam instrumentos cada vez mais complexos para penetrar experimentalmente no mundo subatómico. Este mundo, como toda a gente sabe, não é acessível aos nossos sentidos como o mundo que é acessível no nosso dia-a-dia. Questionam a qual destes níveis de mundo devemos chamar “verdadeira realidade”.

Alguns cientistas consideram que é a forma subatómica, como é conhecida pelos físicos e que está para além da nossa percepção sensorial comum, que é a “verdadeira realidade”, e não a forma do mundo como é conhecida pelos nossos sentidos. Esta, é apenas a aparência da “verdadeira realidade” que os físicos conhecem. Segundo eles, o que vemos e ouvimos não são os fenómenos em si mas as suas consequências. Mas Granjo Marcos duvida que seja assim.

Já se sabe que o nível do mundo físico subatómico é diferente do nível da vida experienciada quotidianamente. Mas é na base deste que fazemos a nossa vida. É certo que há muita coisa de que hoje nos servimos, até para uma banal audição de música gravada num CD, que resulta de uma engrenagem oculta obtida à custa do mundo subatómico. E é aqui que entram os paradoxos.

Um mundo é de facto paradoxal, e estamos a viver bem com isso. Há vários níveis de realidade. Tudo depende do nível a que nos estamos a referir quando formulamos perguntas como a que Ogima formulou. O conhecimento que temos do mundo, tal como o conhecemos através da nossa experiência sensível do dia-a-dia, é conhecimento da realidade, com matéria, e não é nenhuma aparência como alguns querem fazer crer. Mas o conhecimento que se tem do mundo através da ciência física, do qual já não faz sentido o conceito de matéria, também é conhecimento da realidade, só que é realidade de um outro nível de entendimento.

A nossa linguagem vulgar, que funciona com imagens retiradas do mundo dos sentidos, deixa de ser adequada para descrever os fenómenos da física, e a linguagem da física deixa de ser entendível quando passsa para a linguagem vulgar. À medida que se penetra no mundo subatómico temos de abandonar as imagens e conceitos da linguagem do mundo vulgar. Os físicos para investigar a estrutura do átomo têm de sair de um mundo e entrar noutro, cuja realidade não é a realidade do mundo sensível. Esta experiência, que é paradoxal, não pode ser resolvida apenas pelo raciocínio lógico.

Ogima desandou e foi dar um passeio pelo jardim junto ao lago com este enigma na cabeça: poderá a Natureza ser tão absurda? Quando ela é analisada pelo intelecto não temos outra alternativa senão considerar que é absurda e paradoxal.

By:F.Dias

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